quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Bem-vindo a Dallas, Sr. presidente!


Quando você, por um motivo qualquer, se lembra de John Fitzgerald Kennedy (JFK), o que vem à sua mente?

Possivelmente, a imagem do jovem presidente, querido por todos, com um magnetismo pessoal indiscutível, corajoso estadista que peitou os russos e os cubanos na Crise dos Mísseis, mas que, em uma visita a Dallas, foi (supostamente) assassinado por Lee Harvey Oswald.

Bem, e que tal a imagem de um homem com a saúde em frangalhos, viciado em remédios, mas que nem por isso se privava de organizar orgias na Casa Branca e que usava o FBI para vigiar a esposa e encobrir as suas infidelidades?

Ou ainda a imagem de um político que fraudou a eleição presidencial com a ajuda da máfia de Chicago, que cedeu para os russos a retirada dos mísseis americanos na Turquia e a garantia de nunca invadir Cuba em troca da retirada dos mísseis soviéticos e que fez planos para assassinar presidentes de países socialistas?

O livro de Seymour Hersh é um soco na boca do estômago! O título e o subtítulo (O lado negro de Camelot: sexo e corrupção na Era Kennedy) dão a entender que se trata de simples sensacionalismo, porém, o autor é um dos melhores jornalistas investigativos dos EUA e conquistou um Pulitzer em 1970, após denunciar o massacre de My Lai, Vietnã.

O livro fala também sobre a fracassada invasão da Baía dos Porcos, sobre o envolvimento secreto de JFK com Christine Keeler (pivô do escândalo de espionagem conhecido como Caso Profumo), sobre a Operação Mangusto e sobre a pouco conhecida Crise de Berlim.

Bem, é muita dinamite para um único post. Se você quer conhecer mais sobre os bastidores de um dos governos mais populares dos EUA, esse livro é o caminho.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Os escritores e suas idiossincrasias – II





Mais algumas manias interessantes de escritores famosos.

Montaigne só conseguia escrever no recolhimento da torre do seu castelo de família. Por sua vez, Balzac vestia uma confortável túnica branca e trabalhava entre 16 a 18 horas seguidas, à base de litros de café.

O poeta Pablo Neruda tinha a mania de escrever somente com caneta de tinta verde.

Moacyr Scliar dizia que em termos de escrever, o seu método, ou mania, ou superstição consistia em não ter método, ou mania, ou superstição.

Conta-se que Clarice Lispector fumava uns cigarros, fazia café e escrevia com a máquina no colo e os filhos em volta. Jorge Luis Borges registrava seus sonhos e os usava na escrita.

O escritor norte-americano Philip Roth vive só e escreve quando vem a inspiração ou quando tem insônia.

Autor de Canalha!, Fabrício Carpinejar, relata: “Não consigo escrever sem camisa. É como desrespeitar a imaginação. E na hora de algum bloqueio, faço faxina da grossa, com detergente e enceradeira. Volto cansado ao computador, sem vontade de mentir”.

Marçal Aquino, autor de Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, diz: “Escrevo literatura exclusivamente a mão, em cadernos tipo universitário, com caneta macia. Gosto da frase do Kureishi: ‘Escrevo com pau duro e caneta de ponta mole, e não o contrário’”.

João Silvério Trevisan diz que para escrever Ana em Veneza jogou búzios, I Ching e fez mapa solar dos personagens (figuras reais).

Bruna Beber, autora de Balés, só tem uma restrição: sem humanos por perto. Mas bicho pode.

Vocês devem estar pensando para que serve tudo isso. Bom, como dizia a escritora Dorothy Parker: a cura para o tédio é a curiosidade. E não há cura para a curiosidade.

Até a próxima.

Veja a primeira parte desta lista em: Os escritores e suas idiossicrasias - I

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Um relato extraordinário

Vocês tiveram a sorte em nascer pássaros e livres...vejam o que nós humanos fazemos uns aos outros

Na véspera do dia de Nossa Senhora Aparecida, tive a sorte de ver de perto Immaculée Ilibagiza, uma mulher admirável, que conseguiu sobreviver de forma heroica ao genocídio ruandês de 1994. Ainda estavam vivas, em mim, as palavras de sua instigante história autobiográfica, em “Sobrevivi para Contar - O Poder da Fé me Salvou de um Massacre”, quando a ouvi contar sua incrível saga, em uma palestra no TUCA, teatro da PUC-SP. Como quando li as páginas de seu livro, não pude conter as lágrimas.

Logo no prefácio, ela avisa: o livro não pretende contar a história de Ruanda, nem do genocídio, mas a história pessoal em meio à guerra civil ruandesa. Não é por isso, no entanto, que é uma história menos impressionante. Em seu relato, Immaculée conta como superou a solidão, o medo, o ódio e garantiu a fé em Deus e nas pessoas.

Ela, que nunca havia ouvido falar em tutsis e hutus em sua família, passou 91 dias dentro de um banheiro de 1,2m de comprimento e 1m de largura, com mais cinco mulheres e, mais tarde, com mais outras duas, porque o acaso – a alta estatura e o nariz afinado – resolveu considerá-la uma tutsi. Durante o período, elas não podiam conversar ou tomar banho, comiam restos de comida dos moradores da casa e só puxavam a descarga ao mesmo tempo em que alguém, no outro banheiro, puxava também.

Em sua liberdade, essa mulher teve de pagar preços ainda mais dolorosos: pai, mãe, avós e irmãos foram assassinados de forma cruel e violenta. A nova vida lhe deixava entre a esperança e o desalento. Era preciso encontrar um emprego, amigos, uma casa, mais tarde, um grande amor e o mais difícil de tudo: a capacidade de perdoar, apenas assim conseguiria estar livre para recomeçar sua vida.

Immaculée só conquistou o perdão por meio da oração. No banheiro, apegou-se ao terço vermelho e branco, dado pelo seu pai na última vez em que viu. Depois de pedir insistidas vezes para perdoar os assassinos e a livrar-se do ódio que sentia, ela conseguiu. “Pela primeira vez, desde que havia entrado no banheiro, dormi em paz”.

E foi para discursar sobre o perdão que Immaculée veio ao Brasil. Com essa arma poderosa, entendeu que a sua vida poderia ter um novo começo e o ciclo vicioso da vingança e do ódio entre os povos poderia ter um fim. Ao vê-la tão bonita e decidida, meu sentimento foi de pura admiração, o sentimento de pena ameaço deixar para mim e para os outros quando nos deixamos impressionar e nos acovardar diante das pequenas mazelas da vida ordinária.

Immaculée, 39 anos, trabalhou na ONU em Ruanda e nos Estados Unidos. É casada com um norte-americano, tem dois filhos e hoje se dedica à sua Fundação Ilibagiza, criada por ela para atender sobreviventes de genocídios e guerras, principalmente os órfãos.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Os escritores e suas idiossincrasias – I







Compilei alguns métodos e comportamentos interessantes de escritores famosos.

Reza a lenda que Alexandre Dumas, quando começava uma obra, trabalhava dia e noite, sem cessar, até ver concluído o trabalho. Para estar certo disso, e não ser interrompido, despia-se e entregava os sapatos e as roupas ao criado.

Bukowski dizia só escrever depois de bêbado, e após fazer sexo ou se masturbar. Baudelaire também enchia a cara para escrever.

O escritor Pedro Nava, após encontrar a posição ideal que o inspirava, parafusava os móveis de sua casa a fim de que ninguém os mudasse de lugar.

Dizem que Verlaine, o grande poeta francês, só conseguia trabalhar sob a influência de drogas e Hoffman, o afamado autor dos "Contos", sob o efeito de uma beberagem de ervas.

O método de Victor Hugo, porém, foi dos mais extraordinários: trabalhava de pé, por vezes até catorze horas seguidas e foi assim que produziu "Os Miseráveis". Goethe também não se sentava ao escrever e, por conta disso, mantinha em sua casa uma escrivaninha alta.

Charles Dickens gostava de trabalhar num escritório suntuoso, justamente o contrário de Thackeray, que adorava o quarto pequenino e íntimo que mandou construir no fundo do quintal de sua casa. Bernard Shaw também preferia ficar longe de todos.

Eduardo Sterzi só escreve textos críticos na fonte Garamond corpo 12. A entrelinha tem de ser simples. O zoom deve estar em 210%.

Já o escritor argentino Ernesto Sabato tinha o hábito de, à tarde, incendiar o que havia escrito até o meio-dia.

O autor de A coisa não-deus, Alexandre Soares Silva, diz que gosta de escrever de madrugada, porque só consegue pensar quando todo mundo está dormindo. A sensação é a de que todo mundo morreu faz tempo, e finalmente pode dizer a verdade”.

Bom, parafraseando Samuel Beckett : “Todos nós nascemos adoráveis loucos. Alguns permanecem”.

Eu volto...e isso é uma ameaça.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Do outro lado do muro

No ano de Nosso Senhor de 1096, os corajosos exércitos da cristandade iniciaram uma série de campanhas militares que visavam conquistar a Terra Santa de Jerusalém, que estava nas mãos dos infiéis.

No ano de 489, os selvagens e impiedosos franj invadiram as terras da Ásia Menor e iniciaram uma guerra feroz contra os muçulmanos e contra Allah, o Clemente, o Misericordioso.

Essas são duas formas diferentes de se começar a contar a mesma história. As Cruzadas foram um evento tão brutal e traumatizante que até hoje podemos identificar aqui e ali resquícios desse conflito.
Qual dos dois lados em guerra estava com a razão? Essa é uma pergunta difícil e fica ainda mais difícil respondê-la quando conhecemos apenas um lado da história. Infelizmente, não raro, nos contentamos com a história contada pelo vencedor (neste caso, acontece algo pior: nos contentamos com a versão dos cruzados, o lado que perdeu!!!).
As Cruzadas vistas pelos árabes é um livro, no mínimo, necessário. Escrita por Amin Maalouf – um intelectual não muito conhecido aqui no Brasil, mas que faz parte da Académie Française –, essa obra leva o leitor ao coração de um povo que amargou a invasão de suas terras e episódios tão terríveis que desafiam a nossa imaginação (como é o caso dos canibais de Maara, da queima dos cem mil volumes da biblioteca de Dar-em-Ilm e da chuva de cabeças durante o cerco a Antioquia).
Esse livro tem o poder de provocar uma reação estranha: quando estiver no meio da leitura e com a guarda baixa, você (cristão e ocidental) se pegará torcendo por sultões, atabegs e califas e nomes como Kilij Arslan, Saladino e Redwan serão tão familiares e nobres quanto o de Ricardo, Coração de Leão.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sem poesia o mundo não rola...




Ofício




Se mal desperta


os pés tocam o chão e já de novo no ar


ou é tocador de sinos


ou é poeta




Um Nobel para a poesia

Foi anunciado hoje o vencedor do prêmio Nobel de Literatura deste ano, o poeta sueco Tomas Tranströmer.

Nascido em 1931, Tranströmer publicou seu primeiro livro de poesias aos 23 anos.

"Por meio de suas imagens condensadas e translúcidas, ele nos dá novo acesso à realidade”, declarou a Academia Sueca, responsável pelo prêmio.

Infelizmente, não temos traduções de livros dele no Brasil, mas o poeta português João Luís Barreto Guimarães publicou algumas traduções de poemas de Tranströmer em seu blog, a partir da versão espanhola de Para vivos y muertos (tradução de Roberto Mascaro e Francisco Uriz). Reproduzo um deles aqui:

HISTÓRIAS DE MARINHEIROS
Tomas Tranströmer

Há dias de inverno sem neve em que o mar é parente
de zonas montanhosas, encolhido sob plumagem cinza,
azul só por um minuto, longas horas com ondas quais pálidos
linces, buscando em vão sustento nas pedras de à beira-mar.

Em dias como estes saem do mar restos de naufrágios em busca
de seus proprietários, sentados no bulício da cidade, e afogadas
tripulações vêm a terra, más ténues que fumo de cachimbo.

(No Norte andam os verdadeiros linces, com garras afiadas
e olhos sonhadores. No Norte, onde o dia
vive numa mina, de dia e de noite.

Ali, onde o único sobrevivente pode estar
junto ao forno da Aurora Boreal escutando
a música dos mortos de frio).

(1954)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Decifra-me ou te devoro










Outro dia, me peguei inventariando as leituras de quando eu era criança. Não faltaram as obras que fizeram parte da vida de toda a minha geração: As aventuras de Tom Sawyer e Huckleberry Finn (de Mark Twain), Reinações de Narizinho (Monteiro Lobato) e as histórias da Condessa de Ségur. Depois, os livros de Agatha Christie. Sem esquecer, é claro, dos famosos gibis.

Mas nunca me esqueci de um livro que marcou essa época: Sir Jerry, Detetive – O Prestidigitador. Era um volume da série que fazia parte da “Coleção Menina e Moça”, lançada pela Livraria José Olympio Editora, que divulgava os romances da famosa “Bibliothèque de Suzette”.

A história transcorria nas férias, passadas na casa do Tio Dick, de uma turma de crianças. Tia Belle contratava, então, um show de mágica para animá-los. Mórouji, o prestidigitador, começa a apresentação no escuro, e após uma estrondosa gargalhada, o mágico desaparece e em seu lugar surge uma menininha de cabelos encaracolados. Mas o colar de pérolas negras de Tia Belle desaparece também. Aí, começa o grande mistério.

Esses livros da “Coleção Menina e Moça”, apesar de publicados a partir de 1934, ficaram por muitas décadas ainda presentes no mercado literário, alcançando assim, a minha geração, e eram recomendados às garotas por serem de absoluta confiança – os editores afiançavam, assim como autores e intelectuais envolvidos na livraria da editora, como José Lins do Rego, e católicos como Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde). Ou seja, eram histórias para encantar e de maneira alguma deletérias na formação do bom comportamento. Havia muito cuidado com o que as jovens liam, para se assegurar que desenvolvessem uma “moral sadia”. Normalmente o conteúdo era conservador, retrógrado e a prerrogativa era sempre o final feliz.

De certa forma, naquela altura acreditei que as aventuras de Sir Jerry houvessem selado meu destino, pois passei a sonhar em ser detetive. Ao fim e ao cabo, não atingi esse objetivo profissional, mas, até hoje, me delicio com histórias de suspense e mistério. E também com enigmas - daí o título dado ao post, do afamado enigma da esfinge.
Até mais.

Foto: www.bloggerromancesemebook.blogspot.com
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