sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Gotas de sensibilidade

Vim declarar um amor.

Este livrinho pode parecer pouco por ser tão pequeno, mas guarda alguns dos textos mais emocionantes que já li.

Dividido em quatro partes, Histórias de cronópios e de famas é uma daquelas joias para termos sempre por perto, pois é irresistível voltar a ler.

A primeira parte, Manual de instruções, traz descrições engraçadíssimas e poéticas para fazer coisas simples (instruções para chorar, instruções para cantar, instruções para dar corda no relógio).

Um exemplo do texto em Instruções para subir uma escada:

(...) Colocaremos no primeiro degrau essa parte, que para simplificar chamaremos de pé, recolhe-se a parte correspondente do lado esquerdo (também chamada pé, mas não se deve confundir com o pé já mencionado), e levantando-a à altura do pé faz-se que ela continue até colocá-la no segundo degrau, com o neste descansará o pé, e no primeiro descansará o pé. (Os primeiros degraus são os mais difíceis, até se adquirir a coordenação necessária. A coincidência de nomes entre o pé o pé torna difícil a explicação. Deve-se ter um cuidado especial em não levantar ao mesmo tempo o pé e o pé.) (...)

A segunda parte chama-se Estranhas ocupações e conta a vida e as manias estranhas de uma família que, por exemplo, constrói em seu quintal diversos instrumentos de tortura, tem interesse especial em velórios e dedica-se à atividade de pousar tigres (só se sabe que os tigres precisam pousar, não sabemos como foi que levantaram voo).

A terceira parte, Matéria plástica, tem um tema mais difuso. Descreve coisas, pessoas, sentimentos. Sempre os textos curtos, engraçados, poéticos que retratam a realidade sendo decididamente non sense.
Como a descrição das gotas de chuva em O esmagamento das gotas:

(...) Mas há as que se suicidam e logo se entregam, brotam na esquadria e de lá mesmo se jogam, parece-me ver a vibração do salto, suas perninhas desprendendo-se e o grito que as embriaga nesse nada do cair e aniquilar-se. (...)

A parte final, Histórias de cronópios e de famas, apresenta essas curiosas criaturas. Momentos na vida dessas criaturas imaginárias e encantadoras.

Os famas são seres generosos, organizados e muito metódicos.

Os cronópios são seres verdes e úmidos que cantam com alegria e perdem todas as moedas que têm nos bolsos.

Os famas para conservar suas lembranças tratam de embalsamá-las da seguinte forma: após fixada a lembrança com cabelos e sinais (...) a colocam contra a parede da sala, com um cartãozinho que diz: “Excursão a Quilmes”, ou “Frank Sinatra”.
Os cronópios (...) deixam as lembranças soltas pela casa, entre gritos alegres, e andam no meio delas e quando passa alguma correndo, acariciam-na com suavidade e lhe dizem: “Não vá se machucar”, e também “Cuidado com os degraus”. (...)

Pedras preciosas e uma das minhas grandes paixões.

2 comentários:

Ivan disse...

O Cortáza é realmente genial! Nunca mais subi uma escada sem pensar nesse livro, hehe!

Abraços

Chris Menezes disse...

Olá Babi,

também é minha grande paixão...se não me engano, eu dei uma edição desse livro pra você.

Eu queria que o blog tivesse o nome de Cronópios, mas quando pesquisei já existia um com esse nome. What a pity!

Post sobre uma obra que não poderia faltar...adorei!

Cumps.

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