segunda-feira, 10 de junho de 2013

Acabou a letra cursiva?

Quando eu trabalhei no setor infantil da Livraria Cultura, passei a ouvir muito o pedido "tem livro em letra bastão?".
 
O que é a letra bastão?
 
Simplesmente é a letra de forma maiúscula:
 
 
 
Atualmente, as crianças são alfabetizadas primeiro com letra bastão e, só depois, com letra cursiva (a tal letra mão). Assim, as mães chegavam pedindo livros com letra bastão porque eram os únicos que os filhos conseguiam ler sozinhos.
 
Um tempo depois de sair da livraria, li uma matéria sobre uma escola dos EUA que estava abolindo o ensino da letra cursiva. Que lástima!
 
Hoje, lendo uma entrevista com a educadora Francisca Paula Toledo Monteiro (aqui), percebi que, talvez, seja um caminho sem volta. Reproduzo aqui as partes da entrevista que falam sobre a questão.
 
Depois de perder o trema, confesso que estou com dor no coração de perder a letra cursiva nas gerações futuras :(
 
Portal – O que pensa da ideia que permeia hoje de que a letra cursiva não vai existir mais, porque hoje o mundo é da letra bastão?
Francisca –
Todas as letras são válidas, desde que a criança tenha a chance de se expressar. Se ela tem uma leitura proficiente, lerá em qualquer tipo de letra. O que é impensável é o professor ainda imaginar que uma criança está alfabetizada quando ela domina a letra cursiva. Isso é um mito e é algo que parte do senso comum. Isso já caiu por terra há muito tempo. Agora, a letra cursiva dificilmente é empregada no mundo e na escola. Qual é o problema da criança responder em letra de forma? Todas as informações são praticamente em letra bastão. Isso está no computador, nos outdoors, nos painéis, nos bilhetes que vão para a casa. O que ocorre é que não há uma grande utilidade mais. E se o computador estragar? É bom que se grafe com a própria letra. É um princípio da autonomia. Não preciso depender da máquina. Qual é o problema se a função da escrita e da leitura é a comunicação e a inserção social do sujeito? O importante é que a criança leia, interprete e consiga fazer o seu uso social. A letra no máximo precisa estar legível para que exerça a função da escrita e da leitura, que são a comunicação e a inserção social – representação subjetiva na minha ausência. Nem precisa estar bonita.
 
Portal - Os Estados Unidos anunciaram o fim do ensino da letra cursiva. E aqui?
Francisca –
Creio que muitas coisas são decretadas porque demoramos muito para mudar. Às vezes isso causa um sofrimento desnecessário às crianças. Não há utilidade na letra cursiva nem em termos de coordenação motora, porque essa coordenação não é testada pela letra. Ela se dá na interação da criança com o mundo e com os outros. A criança que não tem autonomia, que a mãe, a berçarista ou a professora da creche dão tudo na boca e na mão, pode até fazer caligrafia, contudo, não vai desenvolver coordenação. A criança ganha autonomia no fazer, na construção do mundo.
 
 
* A educadora Francisca Paula Toledo Monteiro trabalha com alfabetização e letramento na Divisão de Educação Infantil e Complementar da Unicamp. É professora de crianças na educação complementar que estão em processo de alfabetização de seis as sete anos, num trabalho de educação não formal, mas voltado ao letramento e à alfabetização.
 

2 comentários:

Cristina Casagrande disse...

Ai, o Brasil precisa parar de ser paga pau dos EUA, viu. Aliás, da Europa também. Pensem por si só, já somos grandinhos. Letra cursiva forever, ops, para sempre. =)

Anônimo disse...

Não é bem esse o recado não.

Assistam essa discussão com a professora Francisca e a Elvira Souza Lima:
http://www.youtube.com/watch?v=S3DxZhssBtU

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