
Não ficou só no pensamento. Nos anos 70, revelou-se
compositor e cantor. Mas não estagnou no lirismo musical. Especializou-se em
estudos de guerra e paz nas relações internacionais. Trabalhou muitos anos como
jornalista cultural. Tampouco ficou apenas bajulando
escritores. Escreveu e escreve muito. Não só prosa, mas poesia; não só para
adultos, mas para crianças.
E como foi convidado pela área de Literatura
Infantil e Juvenil da faculdade de letras, foi às crianças que o papo mais
se ateve. Letria acredita que seu
sucesso na literatura infantil se dá por nunca abandonar o pequenino que foi.
Escreve para agradar a sua criança interior, sua principal crítica e cúmplice.
Filho único, o escritor sempre buscou ser seu
companheiro múltiplo e espantar a solidão. Com um certo quê de superstição,
atribui a sua multiplicidade profissional a seu signo, gêmeos. Com orgulho e
humildade, recorda que era o mesmo de Fernando Pessoa, daí os heterônimos.
A paixão pela literatura infantil também tem
ares de paternidade. Quando seus filhos eram pequenos, cantava para adultos. Para
agradá-los, começou a cantar para eles também. E, aí, a poesia veio fácil. E como é
bela!
Para seu orgulho, seu filho, André Letria
seguiu por outro caminho, mas não tão distante. Renomado ilustrador na área
infantil, vez ou outra, faz parceria com o pai. Mas o rapaz tem talento,
injusto seria dizer que o sucesso é por conta dos laços sanguíneos. “Se eu
ajudei em alguma coisa, foi levando meus filhos a pinacotecas nas viagens, trazendo livros e outras novidades artísticas para eles conhecerem”, afirma o pai orgulhoso de si e da
prole.
Nesse debate, Letria recorda aquilo que a gente
já sabia: ilustração e palavra são texto, ainda mais quando os livros são para
os pequenos. Defende, mas também reclama. “Muitas vezes, a equipe de arte
destaca uma palavra, porque ficaria bem para a ilustração, mas, na minha
criação poética, ela não mereceria ser frisada, e o sentido muda.”
E para não negar a formação em direito, faz
questão de argumentar a sua tese. “É preciso recorrer ao clássico - segundo Ítalo Calvino -, de acordo com ele, é o texto [verbal] que gera a imagem e não
o contrário.”
Para o fim de papo, Letria recorda a
importância formadora da leitura, aliando a estética à ética. “Não sou
partidário de que qualquer leitura é válida. Entre ler algo que não tem boa
fundamentação ética e não ler, é melhor não ler”, aposta.
Mas como sua personalidade é múltipla, não
ficou só nos pesos e medidas. “A literatura para o leitor deve ser sempre um
caso de amor.” E pelo pouco que pude conferir, a menos na poesia para crianças,
não é difícil cair de amores por suas letras.
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