“E quando lhe perguntavam o que fazia ali encostado à parede debaixo do campanário, o patrão ‘Ntoni respondia que esperava a morte, que não queria vir buscá-lo, porque os infelizes têm vida longa.”
Josélia Aguiar, do jornal A Folha de São Paulo, escreveu há alguns dias um texto sobre a literatura italiana que precisamos conhecer mais.
Ela informava que até julho acontecerá uma programação que inclui mesas, poesia, performance e exposição dedicadas à literatura italiana na Casa das Rosas, em São Paulo. Começou no último fim de semana, quando o principal tema foi o poeta Giuseppi Ungaretti.
Citou escritores importantes como Antonio Tabucchi, Italo Calvino e outros autores italianos que são publicados no Brasil.
Senti falta de uma menção a Giovanni Verga (1840-1922), escritor italiano, autor de vários livros, entre eles o mais notável: Os Malavoglia (I Malavoglia), de 1881.
Considerado o maior expoente do movimento chamado Verismo – corrente que foi a versão italiana do naturalismo francês – Verga tinha como um dos pressupostos estéticos a representação da realidade.
Nesse romance, Verga trata do universo de Aci Trezza, pequeno vilarejo de pescadores localizado na Sicília. A narrativa é sobre as experiências da família Toscano, mas conhecida pela alcunha de os Malavoglia (literalmente: os preguiçosos), o que não espelha o real comportamento dos seus membros – che erano tutti buona e brava gente di mare.
Seus personagens lutam pela sobrevivência perante um destino que se impõe implacável. Barcos são destroçados no mar e almas esmagadas em terra. Um romance sem fronteiras temporais ou geográficas e que se vale do uso abundante de provérbios, modos de dizer, epítetos, tendo por base a oralidade siciliana. Certa vez, Verga contou em uma carta que aproveitava a estada à beira-mar para observar de perto “aqueles pescadores e colhê-los vivos como Deus os fez”.
Os Malavoglia seria parte do que se chamou “O ciclo dos vencidos”.
Essa temática nos soa bem familiar quando pensamos nos filmes neorrealistas. E procede.
A relação de Luchino Visconti com a literatura foi sempre intensa e o argumento de A terra treme (1948) baseava-se em Os Malavoglia. A obra de autor italiano com que Visconti mais dialogou foi a de Verga. Aparentemente, o escritor siciliano estaria só na base do roteiro de A terra treme, quando, na verdade, é possível apontar sua presença também em Rocco e seus irmãos e até em O leopardo.
Verga era definido pelos críticos de cinema como o poeta do homem siciliano, "sempre a viver de sofrimento e espera".
Fica a dica.
Cumps.
Um comentário:
oi Chris, na verdade, o Julio Pimentel Pinto comentou no blog sobre autores contemporâneos, a ideia não era tanto falar de nomes mais antigos.
volte sempre! :)
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