Apesar de eu ter sido uma leitora voraz desde criança, sou contra a atitude de muitos professores de Português e Redação que obrigam os alunos a lerem clássicos da nossa literatura completamente inadequados à sua idade. Não digo isso por terem conteúdo violento ou sexual...
No meu primeiro contato com Macunaíma, ainda no colégio, li a primeira página e pensei: ahn? Ele comeu o calcanhar dela?
Não entendi nada e, assim, abandonei a leitura. Anos depois, já tendo estudado o Modernismo e lido outras coisas, voltei para Macunaíma e adorei. Entendi que, sim, ele come o calcanhar dela e está tudo certo.
Empurrar Machado de Assis, José de Alencar e Clarice Lispector para alunos com pouca maturidade só tem um resultado: eles pegam birra. Não só desses autores, mas de livros em geral.
Mas você pergunta: o que fazer para meu filho(a)/sobrinho(a)/afilhado(a) etc ler alguma coisa que vá além de Crepúsculo e Diário de um Banana? Para responder, pretendo criar uma série de posts com dicas de clássicos (ou não) que ajudam a criança, o pré-adolescente e até o adolescente a ampliar o gosto literário ou, até mesmo, passar a gostar de ler.
A primeira dica é direcionada às meninas. Não que eu ache que existam livros só de meninas, mas, neste caso, parece-me que não vai ser muito atraente para garotos.
Mulherzinhas é um clássico da literatura de língua inglesa mais conhecido aqui no Brasil pela adaptação para o cinema, Adoráveis Mulheres. O livro começa com as irmãs March reclamando que não ganharão presentes no natal. O pai está na guerra e a família delas não tem muito dinheiro para viver, apesar de ter sido, no passado, uma das mais importantes da região.
Por isso, as meninas March são obrigadas a trabalhar para ajudar em casa ou a passar vergonha na escola por não poderem comprar certos luxos. Porém, como imaginação não depende de dinheiro, elas criam um grupo secreto de teatro e publicam seus próprios jornais.
O livro acompanha as meninas enquanto elas aprendem a viver sem excessos, mas com muita união. Meg, a mais velha, começa a frequentar bailes e sofre nas mãos de meninas ricas que querem transformá-la em alguém diferente do que ela é. Jô, inteligente e amante dos livros, comporta-se mais como um menino do que como uma mocinha. A doce e delicada Beth cai doente justo quando a mãe não está em casa e a mimada Amy, a caçula, gasta seu tempo pensando em como seria melhor a vida com dinheiro.
Louisa May Alcott lançou Mulherzinhas em 1868, inspirada pelas histórias dela e de suas irmãs (Jô é a personagem que representa a autora), e teve tanto sucesso que, em 1869, ganhou uma continuação, Good Wives. Além desses, a autora escreveu mais dois livros com personagens da família March: Little Men e Jo’s Boys.
É importante saber que este livro não traz uma história melada e cor-de-rosa que coloca as meninas como seres fúteis que só querem saber de vestidos e festas. Ele é delicado e mostra como as irmãs March descobrem que dinheiro, afinal, não compra amor nem felicidade.
8 comentários:
Eu adoro o filme Adoráveis Mulheres, mas nunca li o livro. Vou procurar! Adorei a dica!
Lininha, vale lembrar que o filme reúne os dois livros, Mulherzinhas e Good Wives. O livro Mulherzinhas conta só uma parte da história do filme ;)
Bárbara, eu também já abandonei bons livros pq eles chegaram na época errada. Só depois, com mais maturidade, dei uma nova oportunidade para a leitura deles e descobri livros fantásticos.
Gostei do post! Escreva mais.
Obrigada, Aldo! Depois passa aqui para contar que livros foram esses ;)
Você está sugerindo que eu tente ler Macunaíma mais uma vez?rs
Tenho uma boa memória afetiva de Mulherzinhas (mas eu preferiria que o título fosse Pequenas Mulheres).
É realmente uma história encantadora. Eu tenho uma edição ilustrada que preciso achar para dar pra você, Babi.
bjs
Li isso e lembrei do post:
"Há homens que passaram a vida sem ler um livro, fora dos escolares, justamente por não terem tido em criança o ensejo de ler um só livro que lhe falasse à imaginação. Já os que têm a felicidade de na idade própria entrarem em contato com livros que ‘interessam’, esses se tornam grandes ledores e por meio da leitura prolongam até o fim da vida o progresso auto-educativo. Quem começa pela menina da capinha vermelha pode acabar nos Diálogos de Platão, mas quem sofre na infância a ravage dos livros instrutivos e cívicos, não chega até lá nunca. Não adquire o amor da leitura."
("A criança é a humanidade de amanhã", Monteiro Lobato)
Bárbara, ficarei ansiosa por dicas de literatura, para meus homenzinhos, Vinícius e Felipe. Adorei seu texto! Bjos! Lú.
Postar um comentário