A Academia Sueca anunciou o escritor chinês Mo Yan como o vencedor do prêmio Nobel de Literatura 2012, na manhã desta quinta-feira (11). O anúncio foi feito em Estocolmo, na Suécia, às 8h no horário de Brasília, pelo porta-voz do Comitê Nobel que disse: "com realismo alucinatório, ele funde contos populares, a história e o lado contemporâneo".
Segundo o Twitter oficial do Nobel, ao saber do prêmio, Mo Yan estava em casa e disse estar "muito feliz e com medo". O escritor é o segundo chinês a ganhar o Nobel de Literatura, sendo Gao Xingjian o outro, premiado em 2000.
Aos 57 anos, o autor do romance "The Garlic Ballads" (publicado em inglês em 1995 e ainda sem tradução para o português) concorria com nomes como o japonês Haruki Murakami, o húngaro Péter Nádas, e o holandês Cees Nooteboom. Mo Yan também é conhecido por ser o autor dos dois livros que deram origem ao filme "Sorgo Vermelho" (1987), de Zhang Yimou, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim.
O escritor receberá a honraria pelo retrato da conturbada história de seu país, em uma descrição em que se mesclam as tradições e os ritos do mundo rural e em uma linguagem de realismo e magia, assim como a ironia e a sensibilidade, segundo a descrição da Academia.
O prêmio Nobel de Literatura é oferecido anualmente, desde 1901, ao escritor de qualquer nacionalidade que, de acordo com as palavras do próprio Alfred Nobel, criador da honraria, "tenha produzido, no campo literário, a obra mais notável em uma direção ideal".
Segundo a Academia Sueca, 210 escritores disputavam o prêmio neste ano, sendo que 46 deles não haviam sido candidatos em edições anteriores.
O comitê do Nobel envia cartas-convite aos autores qualificados para receber uma indicação ao prêmio. Candidatos qualificados mas que não receberam convite também podem se inscrever. Os nomes dos indicados só podem ser revelados 50 anos depois da premiação.
O Nobel de Literatura 2012, no valor de 8.000.000 de coroas suecas (aproximadamente R$ 2,434 milhões), 20% menos que o ano passado. Em 2011, o vencedor foi o poeta sueco Tomas Tranströmer, 81, cuja obra é inédita no Brasil. Em 2010, o romancista peruano Mario Vargas Llosa foi o escolhido pela Academia Sueca.
Biografia
O escritor chinês Mo Yan, que, na verdade, se chama Guan Moye, passou a usar seu pseudônimo ("Não Fale", em mandarim) a partir da publicação de seu primeiro livro.
Nascido em 1955 em uma família de granjeiros, o Nobel de Literatura 2012 abandonou os estudos na quinta série devido à Revolução Cultural. Após trabalhar no campo e em uma fábrica durante seus anos de adolescência e juventude, Mo Yan entrou para o Exército chinês em 1976. Em 1981, ele começou a escrever contos e, em 1984, se matriculou na Academia de Arte do Exército.
Em 1987, um ano depois de ser formar, publicou o "Red Sorghum: a Novel of China" ("Hong gaoliang jiazu", no original), livro que lhe lançou à fama. Dois anos mais tarde viria "Tiantang Suantai Zhi Ge" ("As Baladas do Alho", em livre tradução).
O livro que ele considera sua obra de maior destaque, "Fengru Feitun" ("Peitos grandes e Quadris Largos", em livre tradução), foi lançado em 1995. O romance causou uma grande polêmica na China por seu conteúdo sexual, o Exército chinês obrigou o escritor a fazer uma autocrítica, enquanto o livro foi retirado de circulação.
Depois de ter abandonado as Forças Armadas, Mo começou a trabalhar como editor de jornal, embora continuasse escrevendo seus livros, como "Tanxiangxing" ("A Tortura do Sândalo", em livre tradução), de 2001, e "Wa" ("Rã", em livre traduçlão), de 2009.
Nos últimos dias, a imprensa chinesa passou a abordar a possibilidade de Mo Yan ganhar o prêmio, o primeiro Nobel entregue a um escritor chinês radicado no país, já que Gao Xijian, premiado em 2000, residia na França e tinha nacionalidade francesa.
Seguidor do conselho que deu a si mesmo ao escolher seu pseudônimo, Mo Yan optou pelo silêncio nestes dias que antecedeu a definição do prêmio e deverá permanecer assim.
Em algumas ocasiões anteriores, o escritor chinês já tinha advertido que não diria nada em uma situação como esta. "Uma vez que dissesse algo, eles me atacariam, como muitos já criticaram os escritores chineses pela ansiedade em torno do Nobel", declarou Mo.
Reportagem da UOL
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