Desculpem, não resisti. O assunto tem sido falado à exaustão, mas eu não queria deixar de discorrer sobre só porque ih-já-se-disse-muito-sobre-isso.
Sem mais delongas, vim falar da polêmica sobre os livros de Lobato. Especificamente Caçadas de Pedrinho e A Moreninha, acusados de racistas e levados ao Supremo Tribunal Federal, por uma ação da Iara (Instituto de Advocacia Racial e Ambiental), que exige a retirada de tais livros das salas de aula.
Poderíamos começar por tentar defender o escritor e divagar sobre sua imensa atuação não só na literatura – especialmente a infantil –, nesta terra de Santa Cruz, mas também nos campos econômico, político e cultural. Vale ressaltar sua preciosíssima contribuição para a produção editorial nacional, fundando a primeira editora brasileira.
Eis que, de repente, o visionário de O presidente negro e grande propagador da lenda do saci é taxado de eugenista.
Mesmo que assim o fosse, a discussão não é esta. Eu não considero Dom Casmurro uma obra-prima porque Machado de Assis era um cara legal. O livro é grande por si só. E eu também não acho o Brás Cubas, o Riobaldo ou a Macabéa personagens gigantes porque eram exemplos de boa moral e conduta.
De fato, se você estiver com a ideia pré-concebida de que Monteiro Lobato era racista e ler apenas a frase “A pobre negra era ainda mais desajeitada que Rabicó e Dona Benta somados”, você logo vai pensar “que sujeitinho preconceituoso, esse escritor”.
Mas se você começar a contextualizar um pouco - o livro como um todo, a obra literária do autor e o contexto da época -, vai ver que não é bem assim. Mesmo que fosse puro racismo dos personagens do Sítio, a questão bem poderia estar ali para retratar uma mentalidade da época, ou mesmo chocar o leitor, o que contribuiria para trazer a discussão à tona.
Vale lembrar que apesar de citar a cor de tia Nastácia (é Nastácia, não Anastácia, gente!) com muita frequência e colá-la como desfavorecida, é interessante ver que, mesmo não sendo parente de sangue de ninguém, ela era chamada sempre de tia.
Não estou aqui dizendo que os brasileiros são bonzinhos e que não têm preconceito. Mas percebe-se, inclusive pela obra de Lobato, como a discriminação e o afeto desse homem cordial brasileiro se misturam. É o velho samba do “morde e assopra”. Isso não significa que, necessariamente, Lobato concordava com isso, e, de novo, a opinião dele é o que menos importa.
O que é uma pena é querer apagar do currículo escolar obras tão importantes quanto essas, por um simples reducionismo de valor. Tais apontamentos podem ser, justamente, debatidos em aula, com propostas interdisciplinares, inclusive.
Lobato era um homem que ia primeiro escutar as pessoas, para depois escrever sobre a lenda. Seria interessante “ouvi-lo”, ao entender sua grandeza na produção cultural do Brasil, antes de discriminá-lo. No mais, a discussão é sempre válida, mas, por favor, censura não.
Sem mais delongas, vim falar da polêmica sobre os livros de Lobato. Especificamente Caçadas de Pedrinho e A Moreninha, acusados de racistas e levados ao Supremo Tribunal Federal, por uma ação da Iara (Instituto de Advocacia Racial e Ambiental), que exige a retirada de tais livros das salas de aula.
Poderíamos começar por tentar defender o escritor e divagar sobre sua imensa atuação não só na literatura – especialmente a infantil –, nesta terra de Santa Cruz, mas também nos campos econômico, político e cultural. Vale ressaltar sua preciosíssima contribuição para a produção editorial nacional, fundando a primeira editora brasileira.
Eis que, de repente, o visionário de O presidente negro e grande propagador da lenda do saci é taxado de eugenista.
Mesmo que assim o fosse, a discussão não é esta. Eu não considero Dom Casmurro uma obra-prima porque Machado de Assis era um cara legal. O livro é grande por si só. E eu também não acho o Brás Cubas, o Riobaldo ou a Macabéa personagens gigantes porque eram exemplos de boa moral e conduta.
De fato, se você estiver com a ideia pré-concebida de que Monteiro Lobato era racista e ler apenas a frase “A pobre negra era ainda mais desajeitada que Rabicó e Dona Benta somados”, você logo vai pensar “que sujeitinho preconceituoso, esse escritor”.
Mas se você começar a contextualizar um pouco - o livro como um todo, a obra literária do autor e o contexto da época -, vai ver que não é bem assim. Mesmo que fosse puro racismo dos personagens do Sítio, a questão bem poderia estar ali para retratar uma mentalidade da época, ou mesmo chocar o leitor, o que contribuiria para trazer a discussão à tona.
Vale lembrar que apesar de citar a cor de tia Nastácia (é Nastácia, não Anastácia, gente!) com muita frequência e colá-la como desfavorecida, é interessante ver que, mesmo não sendo parente de sangue de ninguém, ela era chamada sempre de tia.
Não estou aqui dizendo que os brasileiros são bonzinhos e que não têm preconceito. Mas percebe-se, inclusive pela obra de Lobato, como a discriminação e o afeto desse homem cordial brasileiro se misturam. É o velho samba do “morde e assopra”. Isso não significa que, necessariamente, Lobato concordava com isso, e, de novo, a opinião dele é o que menos importa.
O que é uma pena é querer apagar do currículo escolar obras tão importantes quanto essas, por um simples reducionismo de valor. Tais apontamentos podem ser, justamente, debatidos em aula, com propostas interdisciplinares, inclusive.
Lobato era um homem que ia primeiro escutar as pessoas, para depois escrever sobre a lenda. Seria interessante “ouvi-lo”, ao entender sua grandeza na produção cultural do Brasil, antes de discriminá-lo. No mais, a discussão é sempre válida, mas, por favor, censura não.
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